Quando a influência é usada pro mal
20 de Maio de 2018 POR Jojo COMENTA AQUI!

Semana passada a Kim Kardashian fez o seguinte post em seu perfil no Instagram.

A legenda falava mais ou menos assim:

“Oi pessoal… @flattummyco acaba de lançar esse novo produto. Trata-se do Pirulito Supressor de Apetite e é literalmente surreal. Eles estão dando 15% de desconto pras primeiras 500 pessoas que comprarem pelo site deles, então vocês tem que ser rápidos! #chupaessa”

Esse post é errado em tantos níveis que fica difícil saber por onde começar, mas vamo começar pelo masi óbvio né? Uma mulher com 111 milhões de seguidores achou bacana fazer um post sobre supressores alimentares. Uma mulher com uma influência gigantesca usou essa influência pra dizer que bacana mesmo é bacana enganar o seu corpo pra ele não sentir fome. Tudo em busca daquele corpo perfeito, da barriga negativa, das pernas que não encostam umas nas outras.

O descaso com que Kim postou a mensagem sobre o tal do pirulito – sem pensar duas vezes, sem ponderar sobre as consequências de suas palavras – é só mais uma prova de como a gente vive num mundo em que a magreza ainda é venerada como a maior das virtudes. Uma graça a ser alcançada a qualquer custo, incluindo o custo da saúde física e mental.

Uma pesquisa de 2014 apontou que 77% das meninas entre 10 e 24 anos acreditam que mulheres magras são mais felizes. E é essa crença de que a magreza é um pote de ouro no fim do arco-íris que permite que transtornos seríssimos como anorexia e bulimia atinjam tanta gente.

E pra quem acha que anorexia é fazer uma dietinha aqui e ali, vale lembrar que pacientes de anorexia tem uma taxa de mortalidade maior do que pacientes com câncer de mama.

O assunto é tão sério que, no ano passado, a empresa que produz o tal pirulito foi banida de anunciar seus produtos em mídias sociais aqui no Reino Unido.

Mas a verdade é que esse post foi a gota d’água num mosaico de imagens que passam a mesma mensagem: de que a maneira como a gente aparenta é mais importante do que todo o resto. Kim e sua família transmitem diariamente a ideia de que estar dentro de um determinado padrão de beleza é importante sim e deve ser algo a ser perseguido – com cirurgias, tratamentos estéticos, maquiagens, cintas modeladoras e… dietas restritivas.

Como podemos esperar que meninas e mulheres se aceitem do jeito que são quando as mulheres mais influentes do planeta diariamente nos dizem o oposto?

A verdade é que precisamos de novos exemplos. De vozes femininas que ecoem a mensagem inversa. De que seus corpos tem valor, independente do quão próximo ele é desse padrão estético inventado e propagado por aí. E mais do que isso,  mulheres que ecoem que seu valor está além do seu corpo. Está em suas histórias, seus valores, suas vivências, suas ideias.

Acreditem, essas vozes estão aí pelo mundo. Talvez elas ainda não tenham tanto poder quanto essas vozes tóxicas que nos dizem o contrário. Mas é nosso dever fazer elas chegarem mais longe.

Então eu queria terminar esse post fazendo justamente isso. Te mostrando que nem só de Kim Kardashian vive a internet. Que nesse mundo digital tem muita gente falando pra você ouvir e respeitar o seu corpo. Tem gente que está lutando pra não demonizarem a comida. E que está estendendo a mão pra quem tanto sofre com distúrbios sérios relacionados a auto-imagem. Gente como a Carla e a Jô do #paposobreautoestima, como a Fabiana Saba – ex modelo e ativista de body positivity, Xanda Nunes do Alexandrismos, a Mirian Bottan, ou a própria Tia Má, incrível que a gente já até mostrou aqui no blog.

Bora coletivamente dar volume à voz dessa mulherada que tem uma mensagem positiva pra passar. Porque tem muita gente mesmo precisando.